A esclerose múltipla é uma doença autoimune que afeta o cérebro, nervos ópticos e a medula espinhal (sistema nervoso central). Isso acontece porque o sistema imunológico do corpo confunde células saudáveis com "intrusas", e as ataca provocando lesões. O sistema imune do paciente corrói a bainha protetora que cobre os nervos, conhecida como mielina.
Os danos à mielina causam interferência na comunicação entre o cérebro, medula espinhal e outras áreas do sistema nervosa central. Esta condição pode resultar na deterioração dos próprios nervos, em um processo potencialmente irreversível. Ao longo do tempo, a degeneração da mielina provocada pela doença vai causando lesões no cérebro, que podem levar à atrofia ou perda de massa cerebral. Em geral, pacientes com esclerose múltipla apresentam perda de volume cerebral até cinco vezes mais rápida do que o normal.
Os sintomas variam amplamente, dependendo da quantidade de danos e os nervos que são afetados. A esclerose múltipla (EM) se caracteriza por ser uma doença potencialmente debilitante. Pessoas com casos graves de esclerose múltipla podem perder a capacidade de andar ou falar claramente. Nos estágios iniciais da doença, a esclerose múltipla pode ser de difícil diagnóstico, uma vez que os sintomas aparecem com intervalos e o paciente pode ficar meses ou anos sem qualquer sinal da doença.
A esclerose múltipla atinge cerca de 2,5 milhões de pessoas no mundo. A doença não tem cura, mas os tratamentos podem ajudar a controlar os sintomas e reduzir a progressão da doença.
Causas
As causas exatas da esclerose múltipla não são conhecidas, mas há dados interessantes que sugerem que a genética, o ambiente em que a pessoa vive e até mesmo um vírus podem desempenhar um papel no desenvolvimento da doença. Embora a causa ainda seja desconhecida, a esclerose múltipla tem sido foco de muitos estudos no mundo todo, o que tem possibilitado uma constante e significativa evolução na qualidade de vida dos pacientes.
Genética e ambiente
Acredita-se que a esclerose múltipla pode em parte ser determinada geneticamente. Parentes de pessoas com esclerose múltipla têm maior risco de desenvolver a doença. Irmãos de um portador têm um risco 2% a 5% maior de ter esclerose múltipla.
No entanto, experiências com gêmeos idênticos indicam que a hereditariedade pode não ser o único fator envolvido. Se a esclerose múltipla fosse determinada exclusivamente pela genética, gêmeos idênticos teriam riscos idênticos. No entanto, um gêmeo idêntico tem apenas uma chance 30% maior de desenvolver esclerose múltipla.
Alguns cientistas teorizam que a esclerose múltipla se desenvolve em pessoas que nascem com uma predisposição genética que, ao ser exposta a algum agente ambiental, desencadeia uma resposta autoimune exagerada, dando origem à esclerose múltipla. A falta de exposição ao sol nos primeiros meses ou anos de vida também é considerado por especialistas como um fator ambiental que predispõe o aparecimento de esclerose múltipla.
Vírus e esclerose múltipla
Alguns estudos sugerem que alguns vírus, tais como o de Epstein-Barr (mononucleose), varicela-zoster e aqueles presentes na vacina da hepatite podem ter relação com a esclerose múltipla. Até o momento, no entanto, essa hipótese não foi definitivamente confirmada.
Outros fatores
Há cada vez mais evidências sugerindo que hormônios, incluindo os sexuais, podem afetar e serem afetados pelo sistema imunológico. Por exemplo, tanto o estrógeno quanto a progesterona, dois importantes hormônios sexuais femininos, podem suprimir alguma atividade imunológica. A testosterona, o principal hormônio masculino, também pode atuar como um supressor de resposta imune.
Durante a gravidez, os níveis de estrogênio e progesterona são muito elevados, o que pode ajudar a explicar por que as mulheres grávidas com esclerose múltipla geralmente têm menos atividade da doença. Os níveis mais elevados de testosterona em homens podem parcialmente explicar o fato de que as mulheres têm mais chances de desenvolver a doença do que os homens, uma vez que a testosterona também pode inibir o sistema imunológico. Contudo, os fatores hormonais isoladamente não são suficientes para explicar a maior prevalência da doença em mulheres.
Fatores de risco
Vários fatores podem aumentar o risco de esclerose múltipla, incluindo:
· Idade: a esclerose múltipla pode ocorrer em qualquer idade, mas mais comumente afeta as pessoas entre 20 a 40 anos. Nessa faixa etária são feitos 70% dos diagnósticos
· Gênero: mulheres são mais propensas que os homens a desenvolver a esclerose múltipla. A proporção real é de três mulheres para cada homem
· Histórico familiar: se um de seus pais ou irmãos tem esclerose múltipla, você tem uma chance de 1 a 3% de desenvolver a doença - em comparação com o risco na população em geral
· Etnia: os caucasianos, em especial aqueles cujas famílias se originam do norte da Europa, estão em maior risco de desenvolver esclerose múltipla. As pessoas de ascendência asiática, africana ou americana tem menor risco
· Regiões geográficas: a esclerose múltipla é muito mais comum em áreas como a Europa, sul do Canadá, norte dos Estados Unidos, Nova Zelândia e sudeste da Austrália. Não se sabe ainda o porquê
· Outras doenças autoimunes: você pode ser um pouco mais propenso a desenvolver esclerose múltipla se tiver outra doença que afeta o sistema imune como distúrbios da tireoide, diabetes tipo 1 ou doença inflamatória intestinal.
Sintomas de Esclerose múltipla
Pessoas com esclerose múltipla tendem a apresentar os primeiros sintomas na faixa dos 20 a 40 anos. Alguns podem ir e vir, enquanto outros permanecem.
Não há duas pessoas que apresentem rigorosamente os mesmos sintomas de esclerose múltipla. Isso porque as manifestações irão depender dos nervos que são afetados. No entanto, os primeiros sintomas de esclerose múltipla no geral são:
· Visão turva ou dupla
· Fadiga
· Formigamentos
· Perda de força
· Falta de equilíbrio
· Espasmos musculares
· Dores crônicas
· Depressão
· Dificuldade cognitivas
· Problemas sexuais
· Incontinência urinária.
Você pode ter um único sintoma e, em seguida, passar meses ou anos sem qualquer outro. O problema também pode acontecer apenas uma vez, ir embora e nunca mais voltar. Para algumas pessoas, os sintomas tornam-se piores dentro de semanas ou meses.
Estes são os sintomas mais comuns da esclerose múltipla:
Sintomas sensitivo-motores
· Sensação de "alfinetes e agulhas" na pele
· Dormência
· Coceira
· Queimação
· Perda de equilíbrio
· Espasmos musculares
· Problemas para movimentar braços e pernas
· Dificuldade para andar
· Problemas de coordenação e para fazer pequenos movimentos
· Tremor em um ou mais membros
· Fraqueza em um ou mais membros.
Sintomas na bexiga e intestino
· Vontade de urinar várias vezes ao dia
· Urgência para urinar, principalmente à noite
· Dificuldade em esvaziar a bexiga completamente
· Constipação intestinal.
Sintomas sensoriais e psíquicos
· Tonturas ou vertigens
· Atenção e capacidade de julgamento diminuídas
· Perda de memória
· Dificuldade para raciocinar e resolver problemas
· Depressão ou sentimentos de tristeza
· Perda de audição.
Sintomas sexuais
· Secura vaginal
· Problemas de ereção
· Menor sensibilidade ao toque
· Apetite sexual mais baixo
· Problemas para atingir o orgasmo.
Problemas de fala
· Longa pausa entre as palavras
· Fala arrastada ou difícil de entender
· Fala anasalada
· Problemas de deglutição em estágios mais avançados.
Sintomas nos olhos
· Visão dupla
· Incômodo nos olhos
· Movimentos rápidos e incontroláveis dos olhos
· Perda de visão (geralmente afeta um olho de cada vez).
Fadiga
Cerca de oito em cada 10 pessoas com esclerose múltipla se sentem sempre muito cansadas. Essa sensação acontece geralmente durante à tarde e faz com que os músculos fiquem mais fracos, o pensamento mais lento e deixa a pessoa sonolenta.
Essa fadiga geralmente não está associada com a quantidade de trabalho que você faz. Algumas pessoas com esclerose múltipla se sentem cansadas, mesmo depois de uma boa noite de sono.
Forma de evolução
A esclerose múltipla é classificada em:
· Remitente recorrente: é a forma mais comum, na qual os sintomas ocorrem na forma de surtos. Nos surtos há um sintoma neurológico que dura alguns dias ou semanas, podendo haver recuperação total ou parcial, seguindo-se um período se remissão
· Forma progressiva: na qual os sintomas neurológicos evoluem com piora gradual, sem intervalos ou remissões. Geralmente esta fase advém após anos de doença remitente recorrente, sendo por isso chamada de forma secundariamente progressiva. Quando a fase progressiva apresenta-se desde o início, o que é ainda mais raro, é chamada de forma progressiva primária.
Como os sintomas da esclerose múltipla varia muito, é melhor não se comparar com outras pessoas que têm a doença. Sua experiência provavelmente será diferente. A maioria das pessoas aprende a controlar seus sintomas e pode levar uma vida plena e ativa.
Diagnóstico de Esclerose múltipla
O diagnóstico de esclerose múltipla pode ser difícil, uma vez que é grande a variedade e remissão dos sintomas. Em geral, os primeiros médicos a serem procurados variam de acordo com o sintoma apresentado. Por isso que apenas após diferentes sintomas o paciente é encaminhado ao neurologista, que com a ajuda de exames complementares consegue chegar ao diagnóstico. Os critérios para diagnosticar esclerose múltipla são:
· Sintomas e sinais indicando doença cerebral ou da medula espinal
· Evidência de duas ou mais lesões - ou áreas anormais no cérebro - a partir de um exame de ressonância magnética
· Evidência objetiva de doença do cérebro ou da medula espinhal em exame médico
· Dois ou mais episódios com sintomas que dura pelo menos 24 horas, e ocorrem em pelo menos um mês de intervalo
· Nenhuma outra explicação para os sintomas.
O diagnóstico é basicamente clínico e deve ser complementado por ressonância magnética e pelo exame do líquor. Pode ser, no entanto, que o médico peça vários exames para excluir outras condições que podem ter sinais e sintomas semelhantes.
Tratamento de Esclerose múltipla
A esclerose múltipla não tem cura, mas pode ser controlada. O tratamento geralmente se concentra em manejar as crises, controlar os sintomas e reduzir a progressão da doença. Hoje, no Brasil, já existem diversas opções de tratamento, através de cápsula oral diária ou injeções diárias, semanais e mensais. Há 3 tipos de betainterferonas disponíveis para tratamento da esclerose múltipla.
Estratégias para tratar sintomas
· Fisioterapia: um profissional pode lhe ensinar alongamento e fortalecimento muscular, além de mostrar como usar dispositivos que podem tornar a execução de tarefas mais fácil.
· Relaxantes musculares: se você tem esclerose múltipla, pode ocorrer rigidez muscular dolorosa ou espasmos incontroláveis, particularmente nas pernas. Relaxantes musculares podem melhorar esses sintomas. Em alguns casos a toxina botulínica pode auxiliar
· Medicamentos para reduzir a fadiga: medicamentos como a amantadina pode ajudar a reduzir a fadiga devido à esclerose múltipla. Muitas vezes estratégias não farmacológicas podem ser bastante úteis para diminuir a fadiga
· Outros medicamentos: podem ser prescritos tratamentos medicamentosos para depressão, dor e controle da bexiga ou intestino que podem estar associados com a esclerose múltipla.
Convivendo/ Prognóstico
Descanse
A fadiga é um sintoma comum de esclerose múltipla. Embora ela geralmente não esteja relacionada com o seu nível de atividade, o descanso pode fazer você se sentir mais disposto.
Pratique exercícios
O exercício físico regular, como caminhadas, natação, musculação e outras atividades físicas, podem oferecer alguns benefícios se você tiver esclerose múltipla leve à moderada. Benefícios da atividade física incluem melhora da força, tônus muscular, equilíbrio e coordenação, controle da bexiga e do intestino, e menos fadiga e depressão.
Manter uma dieta equilibrada
Comer uma dieta saudável e equilibrada pode ajudar você a manter um peso saudável, fortalecer o sistema imunológico e manter a saúde dos ossos.
Alivie o estresse
O estresse pode desencadear ou piorar os sintomas da esclerose, por isso tente encontrar maneiras de relaxar. Atividades como yoga, tai chi, massagem, meditação, respiração profunda ou apenas ouvir uma boa música podem ajudar.
Adapte-se no ambiente de trabalho
Por conta da fadiga e dificuldades motoras, pode ser mais complicado para uma pessoa com esclerose múltipla exercer suas atividades no trabalho da mesma forma que pessoas saudáveis. Entre as adaptações que podem ser propostas estão:
· Maior flexibilidade de horário
· Possibilidade de pausas regulares
· Tarefas variadas
· Adequação entre habilidades, limitações e a função desempenhada
· Garantia de confidencialidade de informações sensíveis e particulares.
Evite o calor
Pacientes com esclerose múltipla são muito sensíveis ao calor. Por isso, é importante evitar banhos quentes e exposição excessiva ao sol quando possível. Usar roupas leves e manter o corpo refrescado também pode ajudar.
Busque apoio
Existem diversos grupos de apoio, tanto presenciais quanto online, de pacientes com esclerose múltipla. Caso seja de interesse, procure essas comunidades para trocar experiências e entender melhor a doença.
Complicações possíveis
Em alguns casos, pessoas com esclerose múltipla também podem desenvolver:
· Espasmos musculares e fraqueza crônica
· Paralisia, geralmente nas pernas
· Problemas na bexiga permanentes
· Dificuldades sexuais permanentes
· Esquecimento e dificuldade de concentração permanente
· Depressão
· Epilepsia.
Prevenção
Não é possível prevenir a esclerose múltipla. No entanto, com diagnóstico precoce e tratamento adequado, o paciente consegue viver sem grandes complicações decorrentes da doença.
Comentários